Morreu João Aguiar, sem poder acabar o seu último romance histórico
Hai uns dias, deixou-nos João Aguiar; quem isto escreve descobriu um pouco por acaso a sua obra na Feira do Livro de Braga. A leitura de A voz dos deuses achegou-no ao passado longínquo destas terras atlânticas da península, quando já se achegava a hora da conquista romana. Seguiria A hora de Sertório para finalmente chegar a uma obra que para nós, galegos, deveria ser obra de leitura obrigatória: O trono do Altíssimo, sobre a figura e doutrina de Prisciliano, vítima como Hipátia da inotolerância e o exclusivismo cristãos, romance no que ademais um percebe uma respeitosa homenagem ao paganismo naquela altura já declinante.
Infelizmente, nesta Galiza brutalmente espanholizada muito poucas pessoas terám lido a João Aguiar. Foi-se em silêncio, sem o aparato mediático que sim tinham outros escritores. Com a sua morte, o romance histórico português e em português acaba de perder um vulto provavelmente insubstituível.
Fica-nos a sua obra, que ele continue a viver através dela e nós a fazê-la imperecedeira através da sua leitura.